HORMÔNIO DA FOME

HORMÔNIO DA FOME

ESTÁ LIGADO A COMPORTAMENTOS IMPULSIVOS E AFETA ATÉ DECISÕES MONETÁRIAS

Por Holding Comunicações | Marcella Garcez

 

Estudo de Harvard apresentado no último encontro da Endocrine Society descobriu que níveis mais altos do hormônio grelina, que estimula o apetite, influenciam decisões monetárias.

A forma como os hormônios interferem em nossos comportamentos acontecem em um nível que sequer imaginamos. Pesquisadores de Harvard apresentaram em março, no último encontro da Endocrine Society, um trabalho que cita como o hormônio da fome, a grelina, influencia até em decisões monetárias. “Esta pesquisa apresenta novas evidências em humanos de que a grelina, o chamado ‘hormônio da fome’, afeta a tomada de decisão monetária. Isso confirma o que outras descobertas recentes, de pesquisas em roedores, concluíram sobre o papel desse hormônio, produzido principalmente no trato gastrointestinal, nas escolhas e comportamentos impulsivos. 

Quem tem maiores níveis de grelina tende a ter mais comportamentos impulsivos, inclusive ligados às questões monetárias”, afirma a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). “Os participantes do estudo foram solicitados a fazer uma série de escolhas para indicar sua preferência por uma recompensa monetária menor, mas imediata, ou uma quantia maior de dinheiro a receber em mais tempo, por exemplo, $20 hoje ou $80 em 14 dias. Quem tinha maiores níveis de grelina preferiam a recompensa imediata, mas menor, indicando um comportamento impulsivo”, completa a médica.

Os resultados indicam que a grelina pode desempenhar um papel mais amplo do que anteriormente reconhecido no comportamento humano. “Essa pesquisa é muito interessante, pois mostra o papel do hormônio relacionado à recompensa e tomada de decisões, como escolhas monetárias, desvendando seu papel na percepção e no comportamento humano independente de alimentos”, diz a Dra. Marcella. “A grelina sinaliza ao cérebro a necessidade de comer e pode modular as vias cerebrais que controlam o processamento da recompensa. Os níveis de grelina flutuam ao longo do dia, dependendo da ingestão de alimentos e do metabolismo individual”, acrescenta a médica nutróloga.

Este estudo incluiu 84 participantes do sexo feminino com idades entre 10 e 22 anos: 50 com um transtorno alimentar de baixo peso, como anorexia nervosa, e 34 participantes saudáveis do controle. A equipe de pesquisa testou os níveis sanguíneos de grelina total antes e depois de uma refeição padronizada que era a mesma para todos os participantes, que haviam jejuado antes. Após a refeição, os participantes fizeram um teste de decisões financeiras hipotéticas, chamado de tarefa de desconto por atraso. 

Eles foram solicitados a fazer uma série de escolhas para indicar sua preferência por uma recompensa monetária imediata menor ou uma quantia maior de dinheiro, mas recebidos em tempo maior. Meninas saudáveis e mulheres jovens com níveis mais altos de grelina eram mais propensas a escolher a recompensa monetária imediata, mas menor, em vez de esperar por uma quantia maior de dinheiro, relataram os pesquisadores. Essa preferência indica escolhas mais impulsivas. 

“A relação entre o nível de grelina e as escolhas monetárias estava ausente em participantes da mesma idade com um transtorno alimentar de baixo peso. Pessoas com esse transtorno alimentar são conhecidas por terem resistência à grelina”, diz a médica.

Estratégias para controlar esse hormônio incluem uma mudança no estilo de vida pessoal e nos hábitos familiares e sociais, que influenciam muito a ingesta alimentar. “Maus hábitos alimentares inadequados impactam negativamente o consumo alimentar. Comer em horários regulares pode ajudar a reduzir os sentimentos irresistíveis de fome, o que pode ajudar a controlar esse hormônio e os comportamentos impulsivos”, finaliza.

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